Vet Andressa

06/09/2017

TOXOPLASMOSE: O GATO E A MULHER GESTANTE

17:33 0
TOXOPLASMOSE: O GATO E A MULHER GESTANTE

Oi pessoal :) Como o objetivo principal desse blog é a educação em saúde, nada melhor do que abordar sobre uma doença tão falada, porém tão mal conhecida: a Toxoplasmose. Volta e meia vejo informações erradas serem divulgadas por ai, sendo a ultima delas a poucos dias atrás no facebook, uma rede acessada por milhões de pessoas... 

Obs: para melhor compreensão do texto algumas palavras foram marcadas com números, ao final haverá explicações para cada uma delas.

A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. Os hospedeiros definitivos (1) são os membros da família dos felídeos, sendo estes os únicos animais capazes de transmitir oocistos (2) de Toxoplasma nas fezes. Já os humanos, cães, bovinos, e demais vertebrados, são hospedeiros intermediários (3) e não eliminam oocistos nas fezes. 

Como é o ciclo da doença?
Esquema representativo do ciclo da toxoplasmose (http://image.slidesharecdn.com/toxoplasmosis-141008062849-conversion-gate01/95/toxoplasmosis-5-638.jpg?cb=1412749768)
Os gatos adquirem toxoplasmose ingerindo carne crua (principalmente de roedores e pássaros), água e alimentos contaminados. Os protozoários ficam no intestino se reproduzindo e eliminando oocistos por 7 a 21 dias. Depois disso os gatos adquirem imunidade tornando-se resistentes e dificilmente irão eliminar oocistos novamente durante sua vida.
Nos humanos e demais animais a infecção acontece ou de forma congênita (4) ou através da ingestão de carnes mal cozidas, embutidos, água e alimentos mal lavados, além do contato com solo, areia e fezes de gato sem fazer a higiene adequada após o manuseio. Neles o parasita se dissemina por todo o corpo e fica em forma de cistos no sistema nervoso e/ou vísceras em geral causando diversos problemas.

Infecção durante a gestação:
O problema da Toxoplasmose neste período é se a gestante nunca tiver tido contato com o protozoário na vida e acabar contraindo-o pela primeira vez durante a gestação. Como não há anticorpos previamente formados, a mulher corre alto risco de ficar doente. Os protozoários atingem o feto e podem levar à abortos, nascimento de crianças com déficit mental, má formação e até cegueira. Se a mãe já tiver tido contato com o protozoário antes da gestação, a gravidez não terá risco. 

Sintomas:
Os sintomas em gatos são muito variados como, perda de peso, pele amarelada, dificuldade respiratória, febre e depressão. O diagnóstico só é feito após excluir outras causas que levam aos mesmos sintomas. Não costuma haver óbito. Alguns felinos não apresentam nenhum sintoma.
Em humanos (não-gestantes) ocorre febre, aumento de linfonodos, baço e fígado. Pessoas com AIDS costumam ter a forma mais grave que acomete o sistema nervoso, causando convulsões.

Prevenção:
Não existe vacina contra a Toxoplasmose, portanto, o melhor a se fazer é:
  • Manter os gatos domiciliados e não oferecer carnes cruas.
  • Fazer a limpeza da caixa de areia todos os dias, incinerando suas fezes.
  • Lavar bem alimentos e as mãos depois de manuseá-los.
  • Cozinhar bem a carne.
  • Beber água tratada e filtrada.
  • Mulheres gestantes que não possuam anticorpos detectáveis no exame de toxoplasmose devem evitar consumo de carnes mal passadas e embutidos. O contato direto com solo e fezes de gato é permitido, desde que haja a higiene posterior ao manuseio. Devem fazer exames frequentes.
  • Combate aos roedores.

E os cães?
Cães dificilmente adoecem devido a infecção. Como já foi comentado, os protozoários não ficam no intestino desta espécie, porém pode haver a passagem passiva de alguns oocistos pelo trato gastrointestinal mediante ingesta de fezes de gato. Portanto os cães podem eliminar alguns oocistos nas fezes, mas em quantidade bastante reduzida. Outra forma do cão transmitir é através de sua carne, mas acho que ninguém aqui come carne de cachorro, né?

Mais informações relevantes:
  1. Os oocistos nas fezes felinas são eliminados na forma INATIVA (5), a ativação só ocorre após 1 a 5 dias de exposição ao oxigênio, com calor e umidade adequados. Portanto a higiene diária da caixa de areia é essencial!!!
  1. Mulheres gestantes não precisam se desfazer dos seus gatos! Devido ao hábito de higiene dos felinos o pelo não possui oocistos.
  1. As carnes de suínos, caprinos e ovinos são as que possuem maiores chances de estarem contaminadas. Recomenda-se evitar esses alimentos embutidos ou consumo mal passado.

Enfim, se você leu com atenção pode perceber que e ao menos que haja ingestão das fezes do gato, as gestantes podem continuar mantendo contato com eles sem problemas. Só é necessário maior cuidado com a higiene. Espero que tenha sido clara, e para qualquer dúvida estou a disposição.









Glossário:
(1) É aquele que apresenta o parasita em sua fase de maturidade ou em fase de reprodução sexuada.
(2) Local de desenvolvimento de um parasita.
(3) É aquele que apresenta o parasita em sua fase de larvária ou de reprodução assexuada.
(4) Quando a doença é adquirida antes do nascimento.
(5) Forma não infectante do oocisto.

12/08/2017

SARCOMA FELINO X VACINAÇÃO. DEVO MESMO VACINAR?

11:36 0
SARCOMA FELINO X VACINAÇÃO. DEVO MESMO VACINAR?

Olá, pessoal ❤Recentemente assisti palestras ótimas com a médica veterinária especialista em felinos Fernanda Amorim no Congresso MedVep. Um dos assuntos foi os sarcomas de aplicação. Já ouviu falar?? Nesse artigo vou compartilhar com vocês um pouco do que aprendi de forma a desmistificar este assunto!


Pra quem não sabe os sarcomas de aplicação são tumores muito agressivos que ocorrem nos felinos e que costumam aparecer em locais comumente utilizados na administração de vacinas (região interescapular, como na foto acima, onde tem mais pele disponível para aplicações subcutâneas) devido uma reação inflamatória exacerbada que ocorre no local. O tempo entre a aplicação e o parecimento do tumor leva de meses a anos. Não existe tratamento medicamentoso ou quimioterápico eficaz, sendo necessária a retirada por meio de cirurgia, que precisa ser grande e profunda o suficiente a fim de pegar todo o tumor, que tende a se infiltrar nos tecidos sadios. A recuperação no pós-operatório é difícil e muito sofrida para os gatos. As recidivas são extremamente comuns, assim como as metástases, que levam muitos a morte ou eutanásia. Felizmente os sarcomas são considerados raros, sendo que para cada 10.000 felinos 1 terá sarcoma (em média).

Por muito tempo as vacinas foram consideradas as principais vilãs, e ainda hoje muitas pessoas acreditam nisso, e até mesmo veterinários, fazendo com que muitos tenham pavor da vacinação. Há quem diga que prefere manter seu gato completamente domiciliado para prevenir doenças, do que vacinar e correr o risco de aparecer um sarcoma.

Porém muitos estudos já foram feitos e com eles descobriu-se que as vacinas não são as únicas a causar sarcomas, mas que QUALQUER aplicação pode causá-los. Ou seja, antibióticos, anti-inflamatórios... Qualquer substância uma vez injetada no subcutâneo de um gato pode ter potencial para desenvolver uma reação inflamatória tão grande que pode com o tempo torna-se um sarcoma. O que leva a crer que o problema não é o que é injetado no gato, mas sim o próprio gato.

Estudos especulam que os gatos podem ter mutações no gene p53 que está relacionado a supressão de tumores. Ou seja, a perda de função em p53 "pode resultar em taxas maiores de proliferação celular, resistência a estímulos de morte celular, instabilidade genômica e metástase.". Além desse gene, os pesquisadores acreditam que possa haver mutações em outras proteínas que também estejam associadas a formação do sarcoma.

Então o que fazer? Vacinar ou não?
Apesar de haver riscos do desenvolvimento do sarcoma, eles são muito pequenos quando comparados ao risco de não vacinar um animal. Os sarcomas são raros, já doenças como o complexo respiratório felino acomete uma quantidade enorme de animais todos os anos e pode ser prevenida com a simples vacinação. Manter o gato insolado do meio externo a fim de prevenir doenças é perigoso, pois quem garante que o animalzinho não ficará doente algum dia e precise de uma consulta com veterinário e até mesmo de uma internação? Esta pequena visita à clínica pode ser suficiente para contrair Felv, doenças respiratórias, calicivírus... entre tantas doenças que causam sofrimento e morte, e que são muito mais comuns do que o sarcoma de aplicação. Veja abaixo alguns exemplos de doenças comuns em felinos não vacinados:

Gato com Felv (retirado da internet)
Gato com Complexo respiratório felino (retirado da internet).
Atualmente nós veterinários estamos sendo instruídos à fazer aplicações em gatos na região das patas (dianteiras e traseiras) e não mais na região escapular. Nesse caso se aparecer algum sarcoma, o membro pode ser amputado, e dessa forma a chance de sobrevivência e recuperação será muito maior.

Desenho esquemático com a localização correta para aplicação de medicações e vacinas em gatos
Espero que o artigo tenha ajudado você a entender melhor sobre o assunto. Qualquer dúvida, deixe um comentário. Abaixo estará o link do artigo que me baseei para escrever.


Fonte:
http://www.redalyc.org/html/4457/445744090024/
http://smallanimal.vethospital.ufl.edu/clinical-services/oncology/types-of-cancer-and-treatment/injection-site-sarcomas-cats/

16/07/2017

O PERIGO DA LEISHMANIOSE

09:52 0
O PERIGO DA LEISHMANIOSE

Olá amigos :) Recentemente participei de um ciclo de palestras oferecido pela turma de graduação da veterinária da UFRGS cujo assunto era Leishmaniose. Essa doença veio a tona a alguns meses quando óbitos confirmados da doença em humanos foram registrados este ano aqui em Porto Alegre, sendo considerado pela Secretaria de Saúde como situação de emergência. O Conselho Federal de Medicina Veterinária emitiu uma nota técnica alertando os Médicos Veterinários a respeito da doença e da importância dela estar entre os possíveis diagnósticos em cães que apresentam alguns sintomas característicos. Então hoje trago para vocês algumas das informações mais relevantes sobre a doença que adquiri na palestra e através dos meus estudos (será comentado apenas sobre a Leishmaniose Visceral que é a forma mais grave da doença).

Doença em Animais
A Leishmaniose Visceral é uma doença infecciosa grave causada por um protozoário (Leishmania sp.), que invade diversos órgãos dos animais, causando lesões severas e podendo levar a morte. A transmissão é feita através da picada de um mosquito infectado (Mosquito-palha) em um cão, gato ou animal silvestre saudável. A doença não tem cura em animais. Os cães são considerados os principais reservatórios da doença, ou seja, eles possuem o protozoário circulando em seu sangue para o resto da vida em quantidades suficientes para infectar facilmente um mosquito. O mosquito uma vez infectado, pode picar humanos e passar a doença para eles. Veja abaixo um esquema para entender melhor o ciclo dessa doença:

Retirado da internet (http://imgsapp.sites.uai.com.br/app/noticia_133890394703/2013/09/12/145401/20130912102900719486o.jpg)
O Mosquito-palha tem predileção por lugares úmidos, sombreados e com material orgânico, como fezes, lixo e folhas. Por causa disso, a doença estava muito relacionada as áreas mais pobres, com baixas condições de higiene, próximos as matas. Porém cada vez mais o mosquito vem invadindo as cidades, e se adaptando ao ambiente urbano.

Em cães os principais sinais são: perda de peso, perda de pelo no focinho e ponta de orelha, crescimento exagerado das unhas, feridas na pele, diarreia, lesões oculares, hemorragias, problemas renais, entre outros. Como são sinais bastante amplos, que podem ser confundidos com outras doenças, e pelo desconhecimento de muitos veterinários e tutores, o diagnóstico demora a ser feito, o que diminui as chances de sobrevivência.

A doença não tem cura nos animais, porém existem meios de prolongar sua vida com qualidade através de medicações. Atualmente no mercado existe uma única medicação que é liberada para uso em animais, o Milteforan. Ele não os cura, mas melhora os sinais clínicos e diminui a quantidade de protozoários no sangue do cão, fazendo com que seja muito pequena a chance de um mosquito se infectar ao picá-lo. Esse tratamento é para sempre! Porém mesmo como o tratamento, muitos cães morrem anos depois do diagnóstico, devido complicações de saúde, além disso, visto que o tratamento em geral é extremamente caro e para sempre, muitos donos acabam por optar pela eutanásia.

Os sinais clínicos em humanos são fraqueza, perda de apetite, emagrecimento, febre e dores abdominais, que podem se agravar e também levar a morte. Porém, ao contrário dos cães, em humanos existe cura através de medicações que podem ser disponibilizadas pelo governo.

Portanto, devido a gravidade dessa doença e todo o sofrimento que traz para pessoas e animais, a melhor maneira de combatê-la é prevenindo! Veja abaixo algumas medidas simples que você pode seguir:

Para evitar o mosquito:
Limpar o quintal de casa (recolhendo folhas e galhos);
Eliminar resíduos sólidos orgânicos e dar destino adequado ao lixo;
Evitar sombreamento excessivo do pátio e eliminar fontes de umidade.

Para evitar a doença em animais:
 Telar com malha fina os canis para evitar acesso de insetos;
 Usar coleiras a base de deltametrina a 4% (ou outras substâncias liberadas) que tem ação repelente para os mosquitos, ou outros antiparasitários que possuem mesma ação, como por exemplo as das marcas: Scalibor, Leevre, Seresto, Defender e  Advantage Max 3.
 Vacinação! Existe apenas uma vacina liberada para a prevenção da leishmaniose, a Leish-Tec. Converse com seu veterinário!

Para evitar a doença em humanos:
 Usar de mosquiteiro com malha fina;
 Telar portas e janelas com malha fina;
 Usar repelentes.

É importante frisar que mesmo com a vacinação é importante a utilização das coleiras repelentes nos animais, já que a vacina não tem 100% de eficácia! Na minha opinião, a vacinação é necessária para todos os cães, tantos para os que vivem em áreas de risco quanto para os que não. Pois desta forma impedimos que a doença se espalhe, que é o que vem acontecendo, e é preocupante! Converse com seu veterinário, vacine seu animal, e o proteja. Uma vez infectado, a doença é fatal :(
Espero que o post tenha trazido conhecimentos novos para vocês. Abaixo deixarei os links dos sites em que me baseei para escrever esse artigo.

Sites:
http://www.saude.rs.gov.br/leishmanione-visceral
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/leishmaniose-visceral-lv
http://www.bayerpet.com.br/produtos/melhor-sem-picar/default
http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2017/05/morre-terceira-vitima-de-leishmaniose-em-porto-alegre-9794205.html
http://leishtec.com.br
https://www.virbac.com.br/home/produtos/caes/antiparasitarios-internos/main/antiparasitarios-internos/milteforan.html
https://www.virbac.com.br/home/noticias/assessoria-de-imprensa/main/assessoria-de-imprensa/ministerio-da-agricultura-aprova.html